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É preciso percorrer quatro lances de escada e disputar espaço com crianças que surgem de todos os lados até chegar à sala da administração da Casa do Zezinho, imóvel de paredes coloridas, com 3,2 mil metros quadrados, situado na zona sul da capital paulista. Ali fica Dagmar Garroux, a ?tia Dag?, como é mais conhecida a pedagoga que, há 21 anos, fundou a instituição. Ela fala rápido, delega tarefas à equipe de 100 funcionários e vai contando os feitos dos seus Zezinhos, como são chamados os jovens atendidos pela ONG. ?Uma era doméstica e hoje cursa arquitetura na faculdade Belas Artes, o outro é um excelente webdesigner; e por aí vai?, diz, orgulhosa. Na casa, quase 2 mil moradores dos bairros Santo Antônio, Capão Redondo e Jardim Ângela, uma das regiões mais violentas do país, recebem aulas de informática, línguas, música e esportes, entre outras. Para concorrer a uma vaga, é necessário entrar numa lista de espera que, atualmente, tem mil nomes.
Filha de um casal de classe média alta que, em meados do século passado, já se preocupava em registrar seus empregados domésticos e incentivar que estudassem, Dagmar se interessou pela educação e pela favela ainda criança. Aos 14 anos, realizou seu primeiro trabalho voluntário. Durante a ditadura militar, dedicou-se a atender filhos de exilados políticos. A Casa do Zezinho nasceu quando ela e o marido abrigaram meninos ameaçados de morte por grupos de extermínio.

Tia Dag é educadora, mas seu projeto não se restringe à educação. No quarteirão vizinho à Casa do Zezinho funciona o Se Cuida, Zezinho, clínica de medicina integrativa que oferece consultas à população local. Meses atrás, ao ouvir o relato de uma garotinha que, aos 4 anos, era incentivada pela avó a vender em bares de São Paulo flores roubadas, tia Dag percebeu que precisava ir além. ?A família toda é carente?, diz. Assim, surgiram seus dois mais recentes projetos. Um deles, o Maria Zezinho, propõe a troca de conhecimentos entre netos e avós da comunidade. Os garotos ensinam informática às mulheres mais velhas, e elas os instruem sobre ofícios como costura e culinária. ?Coloco minhas habilidades em prática e ainda ganho com isso?, afirma com lágrimas nos olhos Neide Caldas, 65 anos, que recebe 1,2 mil reais para dar aulas de artesanato. Tia Dag criou também o Mãe Zezinho, que funciona onde antes havia um ponto de drogas. Ali, as adolescentes que cuidam de crianças enquanto os adultos trabalham recebem instruções sobre saúde, educação, higiene e desenvolvimento infantil.

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